Olá, pessoal.
Neste fim de semana aproveitei um feriado municipal para fazer um tour pela região e, sem querer querendo, acabei concluindo o Caminho dos Diamantes (Diamantina a Ouro preto) da Estrada Real ao longo de minhas três últimas cicloviagens, com direito a alguns extras.
Pra deixar registrado, a primeira dessas três partes foi em julho do ano passado, quando fiz apenas
este trecho (
https://recliforum.forumeiros.com/t972-estrada-real-parcial), abortado por um piriri bravo, o famoso Piriri Real. Em julho deste ano fiz
este trecho a mais (
https://recliforum.forumeiros.com/t1090-itambe-serra-dos-alves-cachoeira-alta-morro-redondo); nessa segunda parte, o interesse eram os 'extras', mesmo, nem a estrada real em si. Neste fim de semana, meu terceiro trecho do caminho dos diamantes também inicialmente não tinha esse interesse. Eu apenas queria subir até o Caraça. Mas aí resolvi pegar a estrada real pra chegar lá (na verdade ela nem chega lá), e de lá seguir a estrada até ouro preto.
Coloquei na Fox pneus maiores do que os que já tinha usado: 26x2,10 atrás e 20x2,195 na frente. Ambos de uso exclusivo off-road, nada de misto nem nada. Devia ter feito essa montagem desde sempre, ou melhor, desde que passei a usar a fox quase que só pra cicloviagens por estradas de terra. Vai muito melhor em geral: poeira, descidas, subidas... só vai pior em asfalto mesmo, piorando até o
handling, mas nada insuportável.
Salvei as planilhas em PDF no celular, baixei os arquivos GPX dos trechos a pedalar e baixei os mapas que precisaria. Isso tudo foi essencial. Realmente não pretendo mais viajar sem esse tipo de suporte.
Como seriam só 4 dias de viagem, não iria acampar e não havia previsão de chuvas, usei meu menor par de alforjes e ainda levei um violãozinho, um
guitalele, pra tocar um pouquinho nas horas vagas.
1o. dia: Bom Jesus do Amparo - Cocais - Barão de Cocais - Caraça (60km)Peguei um busão até o trevo de bom jesus, o que me adiantaria 35km no trajeto e evitaria um trecho de asfalto no qual passo pelo menos uma vez por mês, treinando. Ou seja, não ganharia nada pedalando até lá, onde já adentraria num trecho de terra da estrada real.
Desembarquei 6 e meia da manhã e dali segui alguns quilômetros até a estrada de terra desembocar na rodovia 381. Lá tomei um café num posto de gasolina e me lembrei de como é maravilhoso tomar um café quente numa manhã gelada de cicloviagem! Perfeito!
Andei mais uns poucos metros na estrada até a entradinha de novo, pra terra. Lá, por conta de obras de duplicação da estrada, o marco estava tombado:
Não foi o único assim pelo caminho! Mas ainda é melhor do que quando ele não está lá, ou quando ele foi trocado de lugar (tem lugar em que ele é pra ser na direita da pista, e está na esquerda... confunde a navegação)
Logo começa uma longa estrada em meio a eucaliptos:
O cenário é um pouco assustador e dá a típica sensação "terra de ninguém". Facinho pra vc ser abduzido ou virar comida do pé grande. Mas é bem instigador e dá sempre vontade de continuar.
Eu não sabia, mas nessas estradas em meio a plantações de eucalipto, é MUITO comum abrirem novas estradas constantemente, assim como sumirem com um trecho ou outro. Isso torna a navegação pelas planilhas bem difícil! Muitas encruzilhadas não têm marcos, e nenhuma das alternativas parece ser 'mais principal' do que a outra. Aliás, isso também não adianta nada, pois muitas vezes vc segue é a estradinha que nem parece ser a principal.
Nessa foto, por exemplo, eu estava errado, e a fox, certa!
O GPS ajuda na maioria das situações. Mas quando vc já está numa viela que não está na rota (acredito que o instituto estrada real não revise as rotas com a frequência que deveria), dá muita dúvida sobre pra onde seguir. Li vários relatos de gente que se perdeu terrivelmente nesse pedaço, e entendo perfeitamente. Acho que chega a ter umas sete 'armadilhas' pelo caminho. Felizmente, segui bem, até terminar essa estrada e começar o poeirão:
E chegar à vila de Cocais:
Lá tomei outro café e me abasteci, pra subir pra Barão. Já havia subido pelo asfalto e é uma boa serrinha, e pela terra não foi diferente. O strava marca 6,6 km duma subida categoria 2 (pra quem não tem ideia, é a mesma categoria das cariocas Mesa do Imperador, Canoas ou da Serra das Araras. só que na poeira/cascalho/pedras!).
Boa parte é a céu aberto, sem muitos trechos com sombras, como estes:
Até começar uma longa descida pra Barão, que infelizmente tem um grande trecho em calçamento! Argh, prefiro uma descida na poeira! No meio da descida:
Barão é uma cidade um pouco maior e a estrada real cai no "fim" dela. Tem que pedalar um pedacinho bom até chegar ao centro, e seguir a planilha é meio incerto pois ela às vezes te mandar seguir uma rua que hoje é contramão. É mais fácil ir perguntando. Almocei antes de seguir o asfalto pro Caraça:
Tinha grande receio pela subida do Caraça (13km), imaginando que eu talvez tivesse que empurrar pela maior parte. O que não seria um problema em si, exceto pelo fato de que neste trecho não existe nadica de nada: comércio, casas de pessoas, nada. Ou seja, um empurra-empurra em que me demorasse muito ia me custar muita água (agora o sol já tinha saído) e comida. Então caprichei no estoque e fui. Antes e depois da portaria da Reserva, algumas placas curiosas:
Mas nem foi tão difícil e empurrei apenas três vezes. No final duma das últimas subidas:
Até começar a descer:
Final da descida:
Lá funciona um hotel com muitos quartos em várias alas, com vários padrões de acomodação. Fiquei na ala da carapuça, respeitosamente confortável, de frente pras ruínas do antigo colégio:
Saí pra tirar mais umas fotinhas:
E ainda vi este contraditório recadinho:
Por do sol, enquanto eu andava por todos os lugares procurando um sinal da tim:
Jantei e dormi cedo, antes da missa das 20h. Parece que é depois da missa que fazem o "espetaculozinho" de dar comida pro lobo guará na porta da igreja. Eu não perguntei e também não esperei pra ver.
2o. dia: Caraça - Santa Bárbara - Catas Altas (50km)Fez baita frio durante a noite e acordei muito cedo, antes das 06, gelado. Fui tocar um pouco lá fora, e o jacu não se intimidou com minha presença:
Tomei o café da manhã, arrumei minhas coisas e parti. Mais duas placas curiosas:
Entrei em Santa Bárbara interessado em comprar um óleo pra corrente (fui cabeça dura em não levar; com um dia de pedal já tava tudo seco) e me abastecer pra seguir logo pra Catas Altas. Mas gastei um tempinho passeando:
E aproveitei pra ir à rodoviária comprar minha passagem de volta, de ouro preto, no domingo. Voltei pra estrada e comecei o trajeto de terra de novo. Há um trecho "antigo", que não está mais nas planilhas mas mantiveram nos arquivos GPX, que passa por dentro duma fazenda, num single track duns 2 ou 3 km. Segui nele!!
Até começar a ter as bonitas cenas da serra do caraça:
E chegar ao bicame de pedras, rúnias dum antigo aqueduto que queria muito fotografar:
Cheguei em Catas Altas e fui procurar um pouso. Escolhi a mais perto e que primeiro me recomendaram. Guardei a bike, tomei uma cerveja e um banho e saí pra rua:
Mais tarde jantei e novamente o sono cedo. A desvantagem de dormir cedo é que vc pode acordar meio cedo demais, muito antes de precisar organizar suas coisas pra sair.
3o. dia: Catas Altas - Mariana (55km)O dia amanheceu muito bonito. O cenário da praça principal da cidade é deslumbrante:
Porém, um dia vai acabar. Na foto do celular é difícil ver, mas a base desses morros está já toda sendo minerada. Talvez dê pra ver em algumas das fotos seguintes.
A esse respeito, a comunidade manda um abraço:
Chegando em Morro D'Água Quente, fiquei impressionado com a beleza desta árvore:
Saindo de lá pega-se um curto trecho de asfalto, meio chatonildo pois é sem acostamento e tem algum trânsito envolvendo caminhões de mineradores, ônibus com funcionários, etc. Todo em subida, até cair de novo na terra:
Sempre com a serra ao fundo:
Depois de perder a serra de vista, as formações mudam (lembrando um pouco o início do caminho dos diamantes, antes de Itambé):
O caminho passa por outras três pequenas localidadades - Santa Rita Durão, Bento Rodrigues e Camargos - sem opções de almoço, o que eu já previa, e também nem sempre com opções muito além de água ou refrigerante e salgadinhos. Eu estava preparado para isso e aproveitei mesmo a oferta de água. Algo que me ficou nítido é como a estrada parece ter sido "empurrada goela abaixo" dessas comunidades. Pois eles "apenas" estão "acostumados" à passagem dos viajantes por lá. Não demonstram simpatia grande por nós, tendo, por muitas vezes, educação e só, e às vezes nem isso. Claro que há exceções. Mas não parece que eles percebem o tipo de atenção que um cicloviajante pode precisar: seja a respeito de dar uma informação, de oferecer uma alternativa... Bem, são coisas que leio na entrelinhas e também nas linhas das reações, das conversas, do atendimento. Acho que eles simplesmente acham que não ganham nada com esse tipo de movimento, e talvez não ganhem mesmo, mas a coisa pode mudar e talvez não precisasse partir deles, e sim duma ação mais conjunta do Instituto Estrada Real junto aos empreendedores locais.
Enfim, seguimos subindo pra Mariana:
Ao final, despenca-se pra cidade. Cheguei ainda a tempo dum almoço tardio, tipo 15h. Mariana é uma cidade que gosto muito e já estive lá inúmeras vezes quando ainda estava na faculdade, cantando no coro de câmara da escola de música da ufmg. Fizemos vários programas com as organistas da catedral da sé, que semanalmente se apresentam tocando o órgão arp schnitger, fantástico instrumento:
Fui pro hotel, lavei minhas roupas (estavam nojentas!) e saí pra jantar, também num restaurante que costumava frequentar, mas não ia há uns 7 anos:
Pedi o prato pra dois, pensando em levar o resto pro hotel, mas comi a porção dupla ali mesmo! E, novamente, ainda mais com os excessos de rango e álcool, dormi cedo.
4o. dia - Mariana a Ouro Preto (12km)Esse dia seria o mais curto mas não queria demorar a chegar em Ouro Preto, pois meu ônibus de volta era logo após o almoço. Acordei cedo, tomei o café cedo e parti pra umas fotos ainda em Mariana:
Essa acima é um caso emblemático da concorrência entre duas irmandades da cidade. Construíram uma igreja em frente a outra! (Carmo e São Francisco).
Na única foto que pedi pra alguém tirar, nesta viagem, esse menino roubou a cena:
E depois ainda me propiciou este registro:
Vista lá de cima da igreja de São Pedro:
E segui estrada pra Ouro Preto, passando pela Mina da Passagem:
Infelizmente não pude visitar, pois os passeios começam às 09h e eu teria que esperar mais de hora. Além de não poder visitar, senti-me excluído com esta placa por lá:
Saí então dali e continuei subindo pra Ouro Preto. Coincidiu minha chegada na cidade com o horário da corrida Ouro Preto - Mariana. Então, pude ver todos os corredores e fotografar alguns. Este caso achei emocionante:
Tomei o máximo cuidado por estar pedalando na contramão dos corredores. O trânsito estava fechado para carros, mas ninguém me parou então eu segui. Peguei um engarrafamento (!) após a passagem de todos os corredores e consequente liberação do trânsito, até passar por um mirante conhecido:
E então poder tirar a clássica foto na Praça Tiradentes:
Se o meu planejamento teve algum problema, foi o de chegar em Mariana no sábado e em Ouro Preto no domingo. Dias de movimentação infernal de turistas, ainda mais pra quem gosta de fotografar. Fica difícil. Mas, não tinha outro jeito. Passei nas igrejas mais próximas, Carmo:
São Francisco:
E, depois do almoço, Pilar:
Voltar de Pilar foi FLÓRIDA, pois é uma descida alucinante pra lá, e não dá pra subir pedalando naquelas pedras! Empurrar de sapatilha também é uma beleza, pois escorrega igual quiabo. Parei pra uma sobremesa numa doceria/creperia, e segui subindo pra rodoviária - antes, passando por um supermercado pra comprar uns sacos de lixo e embalar a fox, após desmontá-la:
Fiz por precaução, mas foi necessário. Eu não conhecia os bagageiros dos ônibus dessa linha e, de fato, eram daqueles pequenos, estreitinhos. E lotados num domingão de 12 de outubro! Mas os funcionários foram extremamente simpáticos e percebi que, sempre que quiser, posso pegar essas linhas sem problema, desde que cuide do desmonte da bike.
Chegando em Itabira minha mulher foi encontrar comigo no ponto, pois eu não tinha intenção de remontar a bike pra pedalar até em casa. Deixei ela no ponto vigiando as coisas e fiz duas viagens a pé pra carregar tudo: quadro, rodas, banco e bagageiro, alforjes e guitalele.
Não é demais eu recomendar o Caminho dos Diamantes, sem pestanejar. É possível fazê-lo em 6 ou 7 dias, ou ainda mais se for visitar os "extras": Tabuleiro, Cabeça de Boi, Cachoeira Alta/Morro Redondo, Santuário do Caraça, além de outras cachoeiras e vilas pelos caminhos. No entanto, é um caminho difícil, e me surpreende que as pessoas escolham fazê-lo como primeira cicloviagem. É fundamental ser bem preparado fisicamente, ter um equipamento super ajustado e ter boa experiência com planejamentos. Ou melhor, não me surpreende, pois é algo tão divulgado entre a comunidade ciclística que o pessoal acha que é uma das únicas alternativas de cicloturismo no brasil, enquanto, na verdade, é uma das INFINITAS alternativas. Qualquer caminho pode virar uma bela (desculpa pra uma) cicloviagem!
álbum com mais fotos: https://plus.google.com/u/0/photos/102746649843925063608/albums/6069663829536005617