MIRANDA IV Bike de Madeira

Finalmente cheguei a algo parecido com um resultado final. Essa bike fiz ano retrasado mas estava parada, faltando acabamentos, revestimento do banco etc. Fiz ela para passear com minha filha, no mês do nascimento dela então só agora ela está apta a andar na cadeira teaseira. O quadro é mais baixo e leve que as anteriores. Aro 20 na frente e 24 na traseira. Sem marchas. Resolvi economizar e deixar tudo mais simples dessa vez. O garfo dianteiro era aro 26, da Miranda III. Precisava de algo forte como uma bmx, não queria garfo infantil. Encurtei ele tirando uma seção de alguns centímetros, encaixei novamente as pontas usando pedaços de canote de selim que incrivelmente encaixavam a perfeição no diâmetro interno da haste do garfo. Colei com epóxi e travei com rebites. Ficou perfeito. O canote do garfo eu precisei estender para liberar espaço para as pernas e evitar que o pé batesse na roda dianteira. Nas bikes anteriores eu optei pelo pedal bem próximo a roda, diminuindo a seção do quadro que vai dá caixa de direção até os pedais, podendo manter assim um guidão mais baixo, uma posição mais reclinada e uma maior resistência a torção nesse segmento do quadro. Mas para passear com minha filha não preciso disso tudo, preciso de agilidade e praticidade. Nesse quadro fiz o inverso dos anteriores para deixar a bike mais manobravel,. Pra estender o canote do guidão do garfo que é do tipo over com rosca eu acabei usando um pedaço de outro canote standart, que encaixa bem.justo, fixado com um parafuso que impede que ele gire no garfo, e no topo desse canote eu prendi uma mesa standart. Ficou firme. Ainda mais levando em conta que não recebe muito esforço por a bike ser reclinada. Uma coisa que ficou pra depois foi o freio traseiro. Não quis gastar mais num freio a tambor e não tive paciência para criar um suporte para colocar um freio simples, tipo ferradura. A bike freia bem e para meus propósitos (ciclovia) é o suficiente. A corrente foi tensionada com um pedaço de metal e uma coroa de um passador antigo. O quadro é em grande parte oco e muito leve. O banco é fixado num trilho feito em madeira e aceita pequenos ajustes para frente e para trás. Coqueii uma cadeirinha convencional com adaptações mínimas e usei o mesmo material do banco para deixá-la mais confortável. A bike é leve para uma reclinada desse tamanho (tenho 1,87 então a bike é grande e não pode torcer muito) Com a cadeirinha pesa 16Kg. Lembrando que o garfo, cubos, pedais e cadeirinha são de aço.
O rodar é macio e silencioso como só bikes de madeira sabem ser. Perfeito para colocar a pequena para dormir ...

Boa e abençoada tarde.

Muito bom. Parabéns. Ficou linda e me parece ter ficado funcional.

Muita Paz e Luz.

Obrigado. A bike é ótima sim.
Abs.

Boa noite, e bom carnaval!
Tem mais informações; tipo distância entre eixos, e se possível desenhos (pdf, dfx, etc...) usar como base para tentar fazer uma.

Estou há muito tempo tentando fazer uma bike de madeira.

Abraços.

Alfredo Padrao escreveu:

Boa noite, e bom carnaval!
Tem mais informações; tipo distância entre eixos, e se possível desenhos (pdf, dfx, etc...) usar como base para tentar fazer uma.

Estou há muito tempo tentando fazer uma bike de madeira.

Abraços.

Olá, desculpe a demora, não venho aqui com frequência.

Infelizmente não tenho projeto. Construo tudo na cabeça, faço algumas medições e rascunhos, e vou ajustando ao meu biotipo conforme vou montando a bike. A técnica de construção eu detalhei em um outro post de outra bike, acho que da Miranda III. Vou tentar descrever os pontos principais aqui, o resto acho que nas fotos das bikes dá pra deduzir.

Basicamente eu lamino folhas de madeira com algum tecido bidirecional de fibra de vidro, intercalando ambas, buscando mais a parte onde a flexão da peça não é desejável. A madeira laminada aguenta muita compressão e flexão, a fibra é só para aumentar a rigidez. Por exemplo, nas molas e banco a fibra de vidro é aplicada principalmente na face onde o esforço estende as fibras da madeira, para assim evitar que a peça lasque ou fique muito flexível. Assim consigo peças finas e firmes, sem acrescentar muito peso. A folhas do quadro são laminadas em uma estrutura pré-cortada de madeira, em que faço perfurações laterais para aliviar o peso. Eu preparo essa estrutura do miolo já fixando o cano que serve para fixar o canote do garfo. São duas peças de madeira coladas com o cano unindo as duas já no ângulo desejado. Faço furos nesse cano para facilitar a aderência e fixo tudo com resina e fibra. Se tiver pó de serragem também é bom para criar uma massa que fixe bem, sem gastar tanta resina e fibra. Não precisa ficar muito rígido, apenas bem colado, pois a sustentação real será dada pela laminação externa. Nas bikes que fiz eu já testei pinus e cedro rosa para fazer a base do quadro. Na Miranda IV optei por um pedal mais afastado do guidão então usei ripas de eucalipto coladas e vazadas para das mais rigidez ao suporte do pedivela. Já a parte do quadro do guidão ao banco é uma peça de pinus mesmo.

A suspensão traseira é inteiramente laminada. No caso da Miranda IV coloquei uma peça de alumínio para a fixação da roda, mas já fiz a fixação do eixo diretamente no quadro de madeira. Só é preciso usar ruelas bem brandes para distribuir a pressão das porcas. Funciona assim na Miranda III há mais de 7 anos e nunca tive problemas. A madeira com fibra não trinca como o carbono, aceita bem parafusos e porcas. Marca um pouco no ponto de pressão até acomodar e só. Também no geral não é preciso uma madeira nobre nem nada para fazer o miolo do quadro, pois depois eu recubro as partes expostas da bike com uma camada de fibra e resina. A sustentação real do quadro é dada pela laminação em madeira, não pelo miolo. Ele só não pode rachar longitudinalmente, por isso a camada de fibra. Fica realmente muito resistente e leve.

O banco e a mola do banco faço separados, assim como um pedaço laminado que faz a parte interna da suspensão traseira. Estes são feitos apenas com as folhas de madeira e fibra. São 4 moldes, como as para costura de roupas, que recorto nas folhas de madeira que tem menos de 1 mm de espessura. Recorto tudo com tesoura mesmo, alternando nas camadas a direção das fibras da madeira. Para a laminação sempre usei Maple, uma indicação de um fabricante artesanal de shapes de skate. As fibras são longas e flexíveis. Para a prensagem das peças faço moldes de papelão, com fatias coladas e recortadas para criar o formato que prensará as folhas de madeira e fibra, dando a forma que desejo após a cura da resina. As peças laminadas variam de umas 8 a 20 camadas, depende muito da parte da peça. O banco varia entre umas poucas camadas na parte superior onde faço sempre uma "pega" até várias camadas na dobra para a base e onde entram os parafusos.

Com madeira o importante nem é reforçar muito um ponto específico de pressão, mas sim distribuir essa pressão por uma área maior. Por isso a mola, dois parafusos na base do banco, uma área lateral relativamente larga do quadro etc. O processo é simples, mas requer alguma experiência com laminação e, principalmente, com os esforços que um quadro reclinado sofre, para acrescentar mais ou menos lâminas de madeira ou fibra de vidro em pontos sensíveis.

Não recomendo utilizar madeira pura, sem laminação com epóxi, ou mesmo compensado naval. Pelo que testei o quadro tende a ficar mais pesado ou frágil que uma laminação como descrevi. Minha primeira reclinada foi uma trike que fiz com compensado naval e miolo em pinus. É mais pesado no geral ou pode lascar no caso da madeira pura. Exige um maquinário mais especializado caso queira fazer o quadro oco, como as da Normal Bikes. Eu faço minhas bikes usando uma tesoura, resina, furadeira, um serrote para desbastar e lixa, na varanda do meu apartamento. O compensado naval por sua vez, pode deformar, delaminar, não permite uma variação inteligente das espessuras ou uma modelagem do formato mais eficiente, deixando a bike pesada, bruta e com aparência mais desajeitada. Tenho vontade de fazer mais um quadro esse ano ou no ano que vem, usando a técnica da Miranda IV, que usou menos material e é mais leve que a Miranda III, mas com a geometria da Miranda III, mais adequada a velocidade e longas distâncias. Quem sabe experimento usar fibra de carbono em algumas seções, como o banco, a mola, que precisam ser muito fortes mas flexíveis. Penso em substituir a fibra de vidro, para aliviar peso e aumentar a rigidez de torção, mas sem abrir mão das folhas de madeira, que dão um acabamento que eu aprecio, não são "quebradiças" como o carbono ou a fibra, e me isolam das vibrações da pista.

Espero ter ajudado. Abraço.