Bem, chegando o mês de julho, não consegui fazer coincidir muito bem as férias de um dos meus trampos, com as de outro... Assim, me sobraram apenas 4 dias livres.
De quinta a domingo. Tinha que aproveitar esse curto descanso, pra uma rápida cicloviagem. Juntei uns roteiros que já queria fazer, por lugares aqui perto, pesquisei muitas estradas de chão nas imagens de satélite, rotas de amigos, conselhos aqui e ali, tracei vários arquivos GPX com cuidado, botei tudo no celular, ressucitei a Fox, conferi meu material de camping, organizei minha bagagem e fui pra estrada!
Percorri quilometragens modestas ao longo dos 4 dias, o que se revelou uma escolha acertada e passei longe de chegar ao destino com gostinho de quero mais. Pedal em estrada de terra pode ser altamente desgastante fisicamente e traz surpresas que te atrasam muito, em termos de qualidade do terreno, altimetria, ocorrências com animais... Mas onde me demoro, mesmo, é nas fotos! Sem querer fazer 60, 70 ou mais quilômetros por dia, pude ter calma pra me demorar com qualquer coisa, seja pra respirar, pra fotografar, pra empurrar... Tudo isso sem chegar tarde aos destinos, podendo aproveitá-los mais adequadamente.
1. dia) Itabira - Itambé do Mato Dentro: 41km, sendo 25 de terra.
Saí o mais cedo que consegui, que não é muito cedo, quase 08 da manhã. Difícil deixar quase tudo organizado na véspera, porque a maior parte da montagem tem que ser feita na rua, já que é impossível descer a bike carregada pela minha escada. E não compensa sair na correria. Aqui, quase terminando o asfalto:
No meio do caminho, encontro com grata surpresa um colega de trabalho, que mora numa rocinha já na estrada de terra. Me cedeu água e me garantiu que dali pra frente era só descida, informação na qual não acreditei! Mais à frente, o primeiro dos mata-burros:
E as paisagens que seriam a tônica desses dias de viagem:
Quando cheguei à ponte sobre o rio Tanque, parei pra tirar esta foto e...:
Assim que tirou, ouço "PFFFFFFSSSSS"!!
Empurrei até um abrigo de ônibus mais à frente, onde poderia fazer o conserto à sombra:
Um remendo feito há, creio, mais de dois anos, não aguentara o tranco, descolando, e o buraco por baixo era razoável.
Erroneamente, fui pra viagem sem aquele kit remendo mais grossinho da vipal... levei uns remendos auto-colantes da topeak. Muito bons, por sinal, mas mesmo fazendo uma gambiarra com o remendo anterior, e usando quatro desses auto-colantes, não segurou
. Conclusão: Me sobraram só dois remendos (levei 6) e usei minha única câmara reserva 26. Mas, funcionou. Chegando em Itambé buscaria outra câmara pra levar, e um kit remendo mais tradicional.
Muitas subidas já perto do meio-dia:
Tem duas posições pra empurrar a Fox: essa aí de cima, segurando banco e guidão, que é mais desconfortável, ou empurrando por trás, pela bagagem, deixando o guidão ir em linha mais ou menos reta, o que é bem de boa.
Cheguei em Itambé e montei meu acampamento. Como estava sozinho no camping, preferi montar a barraca próximo à mesa de refeições, ao banheiro e às luzes, neste abrigozinho, pra não precisar ficar andando muito pelo mato e diminuir o sereno nas minhas coisas.
Fiz meu almoço e minha janta (miojo com ervilhas!) com o auxílio luxuoso do meu kit espiriteira/aparador de vento, uma das poucas coisas DIY que eu fiz (desculpem o pleonasmo) que prestaram! Funciona perfeitamente há uns 3 anos!
Não existe bicicletaria em Itambé, então fatalmente não conseguiria uma câmara reserva, mas tlvz um remendo vipal. Porém, a única loja de motos estava fechada, e assim ficou a tarde toda. Descobri um tal de Titico que tb mexia com motos, que não tinha remendo+cola pra me vender, mas remendou aquele furo bizarro na minha câmara, ou seja, voltei a ter uma câmara reserva.
2. dia) Itambé a Serra dos Alves - 30km de terra
Na manhã seguinte, não consegui acender meu fogo pra fazer meu café. Comecei a duvidar do meu kit cozinha! Descobri, muito depois, que havia comprado uma porcaria de álcool 46% ou 46 graus... quase uma pinga! Difícil demais de acender! Só no dia seguinte compraria um 92 graus, esse sim acende fácil. Tomei café na padaria e segui por um trecho da estrada real, rumo a Senhora do Carmo:
Esse trecho não é altimetricamente difícil, aliás foi o trecho mais fácil da viagem. Porém, é difícil ficar quieto na bicicleta, sem parar pra fotografar! Algumas amostras:
Encontrei com um grupo de caminhantes do espírito santo, percorrendo a estrada real - caminho dos diamantes (diamantina a ouro preto) a pé:
Curiosamente, apesar de ser mês de julho, eles disseram que eu fui o primeiro ciclista que encontraram. Pelos meus cálculos, eles já deviam estar no sexto dia de viagem. O que é impressionante, pois em julho costuma passar ciclista todo dia. De fato, não encontrei mais ninguém de bicicleta.
Cheguei em Senhora do Carmo, me abasteci de água, botei mais uma lata de ervilhas na bagagem e subi pra Serra dos Alves. Caminho um pouco mais hostil de altimetria, de poeira, um pouco mais rústico e, pelo horário, mais quente! Sol na moleira!!
Depois de muito subir, cheguei à Serra dos Alves. Trata-se de um minúsculo distrito de Itabira, um tanto isolado pela distância e dificuldade de acesso, mas que é um pedacinho do paraíso... É habitado por apenas 26 ou 27 famílias! Tem uma pousada, um restaurante que funciona em feriados, uma mercearia. E uma paisagem de cair o queixo.
Na pousada me fizeram almoço, comprei água e cerveja suficiente antes da mercearia fechar, para assistir ao jogo do brasil no conforto do meu quartinho. Fizeram depois uma janta, adormeci, acordei de madrugada e fiz um miojo com passas no meu quarto, mesmo, ainda com o álcool ruim de acender!
3. dia) Serra dos Alves a Cachoeira Alta - 30km
Café da manhã servido, parti rumo à Cachoeira Alta. Como subi muito pra chegar à Serra dos Alves, agora era vez de descer... o que, com estrada empoeirada e bike carregada, chega a ser mais difícil que subir! Empurrei muito morro abaixo, mas muito mesmo. Até chegar a uma cachoeira e voltar a subir:
No caminho encontrei uma dupla de cavaleiros e pedi uma confirmação de cortada de caminho. Eles me desaconselharam a fazer o trajeto que tinha traçado, e que seguia no celular. Acreditei e acho que foi acertado. Segui no estradão, percorrendo um trecho do Parque Estadual Mata do Limoeiro:
E cheguei em Ipoema cedo pro almoço, 11h. Um dos restaurantes já servia, mas não aceitava cartão, e eu não queria gastar meu dinheiro, que poderia precisar. O restaurante que aceitava, só servia a partir de 12h. Nesse meio tempo, descobri o lance do álcool! Comprei um novinho, 92 graus! Mais umas latas de seletas de legumes, macarrão, fósforo (havia usado quase uma caixa inteira!) almocei, dei um tempo e segui pra cachoeira alta. Longos trechos de subida; felizmente, muitos bem cobertos, pela mesma Mata do Limoeiro, só que agora, do outro lado:
Não resisto a postar esse outro selfie:
Vacas no meio da estrada me deixam mais empacado que elas:
Cheguei à cachoeira e montei meu acampamento:
A Cachoeira Alta é alta mesmo:
Ó eu ali!
Fiz meu macarrãozão incrementado de lanche de fim de tarde, e também de janta. Durante a noite, na barraca, muitas e muitas picadas de carrapatos. Acordei de madrugada com oito deles apenas no meu pé direito! Ah, já ia esquecer: às 23:50, meu celular me avisa, pela agenda salva do google, que seria aniversário do amigo Roberto "Mordaz" dali a dez minutos! Infelizmente, passei os quatro dias de viagem sem sinal da Tim, e sem um ponto de wifi, então não pude cumprimentá-lo. Ficam aqui os parabéns e também o teste pra ver se ele está lendo o relato hahahahaha!!!
4o. dia) Cachoeira Alta a Morro Redondo a pé (12km) e
Cachoeira Alta a Itabira (54km)
Fiz meu café da manhã no camping e subi a pé pro Morro Redondo. Esse morro teve um efeito meio hipnótico em mim durante esses dias, pois ele não é grande, mas se desponta na paisagem, podendo ser visto de muitos dos lugares onde estive, e era meu último destino. Sempre quis ir lá, e foi bom que fui a pé, pois eram 6km de dura subida.
Lá em cima há um novo complexo religioso, restaurado pela comunidade local:
Com vista de 360 graus:
Escultura da artista portuguesa Vilma Nöel, parte da revitalização:
Lá em cima o regime de nuvens muda o tempo todo, se passar mais de hora por lá dá pra tirar fotos muito boas, especialmente com alguém ajudando. Infelizmente não tinha tanto tempo assim, mas mesmo sozinho sai coisa legal:
Desci a pé, desmontei meu acampamento, tomei um segundo café da manhã (meu macarrão tinha acabado) e voltei pra Ipoema.
Almocei, dei um tempinho num novo café:
E segui de volta pra casa, agora só asfalto, uns 40 e poucos km, por estradas que já conheço bem:
Por fim, valeu demais a pena, mesmo espremidinho de tempo. Não saí dum raio maior que 60km da minha casa, percorrendo lugares que, em sua maioria, não conhecia, e que tinha preferência de visitar estando de bike. O bom tempo permitiu vislumbrar paisagens phodas - que ficariam ainda melhor nas fotos, caso carregasse uma câmera boa (todas que tirei foram de celular). Alguns momentos de desgaste físico maior, porém a folga de tempo e também o planejamento adequado de água/comida permitiu que isso não me quebrasse, ou me deixasse com a sensação "o quê estou fazendo aqui?". Álbum mais completo aqui:
https://plus.google.com/u/0/photos/102746649843925063608/albums/6033271207977459601